Erguida em Ubatuba, no litoral de São Paulo, a casa de arquitetura elegante com projeto de Anderson Muniz combina mármore e cumaru desenhados em ângulos retos
TEXTO CRISTINA DANTAS – CASAVOGUE | FOTOS ALE RODRIGUES

Uma coisa é ter arte em casa, outra é fazer dela um elemento estrutural. Pois assim é este projeto criado pelo arquiteto Anderson Muniz na Praia de Itamambuca, em Ubatuba, no litoral paulista. Os 1100 m² da construção já causam um bom impacto – acompanhada de piso de mármore serrado, painéis de cumaru, pé direito duplo e uma área interna que se estende para fora como uma raiz à procura do sol.


Eis que, no centro de tudo isso, no pavimento térreo, junto ao estar e à área gourmet, ainda surge uma escada como nunca se viu antes, concebida pelo designer Hugo França. “Quando o convidei para desenhá-la ele ficou tão entusiasmado que no dia seguinte já ligou contando o que imaginava para o local”, comenta Anderson. E a ideia era bastante ousada – por que não um tronco em torno do qual os degraus seriam engastados? A montagem exigiu um pino metálico que, inserido no centro do angico preto, atravessa o forro. Mesmo toda atirantada, ela é um elemento orgânico e leve no coração da casa.
“O primeiro passo foi encontrar uma árvore caída na região. Para isso, contamos com a colaboração do Gaúcho, parceiro que mora em Itamambuca e conhece muito bem o bioma local. Depois de um mês, localizamos na Mata Atlântica um Angelim Vermelho monumental, com formas orgânicas e estrutura robusta”, explica Hugo França. “Foi a maior peça interna que já produzi e a segunda escada que projetei, um desafio e tanto para mim, porque usar uma estrutura bastante orgânica e uma escada que precisa ter degraus geométricos no seu entorno não é uma tarefa fácil.”


Ainda faltavam alguns detalhes finais do projeto a serem executados, mas nem isso segurou a ansiedade do casal de proprietários, com seus filhos e netos, que decidiram inaugurar a casa durante as festas de fim de ano, em 2017. Esse verdadeiro centro de reunião familiar já tinha tudo o que eles precisavam, incluindo uma escultura em forma de escada. Ou vice-versa.


Anderson desenhou as seis suítes – quatro no piso superior e duas no térreo – e o home theater praticamente com o mesmo tamanho. “Aqui, não quis usar essa antiga história de suíte máster, todas são iguais”, conta o arquiteto. Na cozinha revezam-se vários membros da família de origem baiana, que trazem no DNA o prazer de executar bons pratos e de saboreá-los em torno de uma grande mesa para depois esparramarem-se nos confortáveis sofás e poltronas, quase todos feitos sob medida.


Os olhos enxergam uma arquitetura elegante, silenciosa, com lajes que avançam nos dois pavimentos, conferindo ao espaço uma personalidade única. Mas a casa é contemporânea para além do que se pode ver. Totalmente automatizada, seus controles podem ser acionados à distância, da abertura das cortinas à hidromassagem da piscina.


Para realizar a obra, arquiteto e proprietário optaram por uma estrutura metálica, que acelera o tempo de execução e não gera resíduos. Havia uma casa no terreno, é verdade, que foi totalmente demolida. Tudo o que restou dela foi doado e reaproveitado, do entulho (bastante útil para aterros) à caixilharia de madeira. As leis locais de uma área de proteção ambiental são rigorosas, e encontrar o terreno certo não significa poder comprá-lo. Daí a opção por adquirir o imóvel e “desmontá-lo” para erguer uma nova morada.


Anderson Muniz trabalha agora em uma nova etapa: tornar a casa energeticamente autossustentável a partir de uma usina fotovoltaica, plano ainda em fase de elaboração. Formando em 2012, surfista e capoeirista, ele faz parte de uma geração para a qual tudo isso já é muito natural. Com o projeto de Itamambuca em curso, ele acabou por se fixar em Ubatuba com a mulher e os dois filhos. Seu projeto, assim com o seu estilo de vida, são a prova de que ética e estética podem sim fazer um casamento feliz.


